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“Vai o diabo em casa do alfacinha”
(des)amores e outras desordens
nos entremezes portugueses de cordel de Setecentos
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A pertinência dos estudos académicos dedicados ao século xviii português, mormente no que diz respeito ao seu teatro de cordel, é, atualmente, inquestionável. Apesar da feliz opção de um número significativo de investigadores pelo estudo das chamadas literaturas marginais em Portugal, acreditamos que muito haverá a fazer neste domínio ainda mal explorado, pelo que o modesto contributo que agora revelamos publicamente poderá ajudar na compreensão cabal do fenómeno do cordel português. O facto de estarmos reunidos em torno destas questões, muitas vezes polémicas, nesta ilustre Universidade, não deixa de ser sintomático de que algo tem vindo, nas últimas décadas, a mudar: a literatura de cordel começa a conquistar um espaço até há pouco tempo interdito, competindo com as produções dos escritores que enformam o cânone literário português e que têm monopolizado o discurso do poder adstrito ao local que, neste momento, nos acolhe. h?a paixão violenta, / que na∫ce do coraçaõ, / que continuamente queima; / e que ∫ó tem por allivio, / ver que outra igual levareda / ∫ente o coraçaõ, que ∫e ama, / com mutua corre∫pond~ecia. / He hum zelozo furor, / h?a agitaçaõ violenta, / hum objecto ∫em igual, / e até, porque tudo ∫eja, / ∫endo menino, he Gigante, / na força, e na corpulencia. (4) Tal é a força do amor: quando assalta um indivíduo, nada o faz conter-se, pois o “amor he mulher; e quem diz mulher ∫uppoem huma pe∫∫oa incapaz de ∫e callar, e obrigada ou a de∫cobrir o maior ∫egredo, ou arrebentar em 24 horas”. (5) Adeos mãi Zabel vi∫te hoje / A minha amada caxopa? / Venho aqui a ∫eu re∫peito / Com ∫audades, vento em popa; / Naõ ∫ei que gracinha achei / Naquelles olhos traidores, / Que deixo barcos, e redes / Por e∫tes negros amores: / Brancas, Mulatas, Me∫tiças, / No Brazil já tenho tido, / Mas em toda a minha vida / Nunca me vi taõ rendido; / Creio que a beber me deu / Agua do banho da tina, / Depois de tanxar-∫e nella, / Com alguma arte maligna: / I∫to naõ he natural; / Amar eu, e de∫te modo / Amar ∫ó huma mulher, / Eu, que ∫empre as tive a rodo! (9) Deste modo, poderá crer-se que não haverá outra coisa a fazer que não seja entregar-se totalmente ao sentimento amoroso. Por isso, Zabumba considera o amor como um cativeiro ao qual não pode escapar, mesmo que o deseje ardentemente. É precisamente o poder do amor que atrai os apaixonados que, mesmo assim, não se importam com o sofrimento que lhe parece estar inerente: lê-se no Novo Entremez Intitulado O Velho Presumido, e Enganado, e por fim Chorando e Vendo que “[…] o malvado Amor he hum bixinho (sic) roidor, que faz andar o coraçaõ em bolandas: tri∫te de quem ∫e entrega a elle que por força ha de padecer mole∫tias infernaes”. (10) Olha, minha rica Olaia, bem ∫ei que he atrevimento de h?a filha para hum pai de∫prezar os ∫eus con∫elhos; porém elle ambiciozo, por naõ largar o dinheiro, ∫ó cuida nos ∫eus negocios, ∫em tratar dos meus empregos. Tenho ∫ido procurada de alguns nobres Cavalheiros, e a todos tem de∫pedido com mui de∫abridos termos: para minha de∫ventura trouxe o fado aquelle Velho, que dizem que lá nas Minas andou com elle alguns tempos, e∫te ∫ó he que lhe agrada, por ∫er conforme o ∫eu genio; onde ∫empre a ambiçaõ reina, onde ∫empre a∫∫i∫te o zelo. Já naõ tenho coraçaõ para tanto ∫offrimento; pois de mim propria e∫quecida, até a vida aborreço; e já cuido a deixaria ∫obre os fios de hum cutélo, victima de meus furores, holocau∫to dos dezejos, ∫e Fenix naõ rena∫cera nos amorozos incendios com que a vida me con∫ervaõ lembranças de Filisberto. (11) A vontade de casar com a pessoa amada leva os filhos a enganar, sem hesitação, os pais, que querem para eles um destino diverso. Porém, esse engano não dura sempre e os folhetos que analisámos não terminam sem que toda a verdade seja revelada. Sabemos que, no século xviii, quando as filhas se unem aos pretendentes sem a devida autorização dos pais, a reação normal destes seria deserdá-las e perseguir o homem que, na sua perspetiva, enganara a donzela. Porém, muitas vezes, estas atitudes extremas não chegavam a ser postas em prática, pois os noivos viam-se na contingência de pedir perdão, nem sempre sincero, é certo, aos progenitores, acabando o casamento por se concretizar sem oposições. Resulta desta abordagem a noção de que o amor não pode ser pressionado e, embora este seja, para nós, um dado adquirido, para o homem setecentista é verdadeiramente revolucionário o facto de poder escolher o parceiro de acordo com as suas afinidades. Atrevemo-nos, por isso, a considerar que os entremezes de cordel que selecionámos são, neste aspeto, vanguardistas, pois não deixam de sublinhar as mudanças operadas no século xviii quanto aos comportamentos humanos, sobretudo os femininos, reprimidos durante demasiado tempo. A emancipação da mulher passa, pois, pelas aparentemente pequenas metamorfoses, como o livre-arbítrio na escolha da pessoa com quem se decide partilhar a vida, e os folhetos de cordel são testemunhas incontestáveis de uma revolução que estava a ser preparada, em silêncio, no recato do lar. une véritable guerre, non pas en dentelles, mais dans laquelle l’homme doit vaincre la femme s’il ne veut pas être lui-même vaincu. Cette outrance révèle mieux que les phrases policées des philosophes le conflit entre les hommes et les femmes et les angoisses masculines qu’il suscite. Le couple est un des lieux premiers de cet affrontement. Or les Lumières remettent en cause le mariage traditionnel pour promouvoir une nouvelle conception du rapport mari-femme. (13) Como podemos constatar, o conceito de amor opõe-se ao de casamento, neste contexto. Carmen Martín Gaite expõe a diferença entre amor e casamento, ao afirmar que “[u]no era el campo de la pasión, de la mentira, de la tempestad; el otro, el de la templanza y la virtud”. (14) Deste modo, “[e]l amor era deseo de libertad, de salir, de quemarse; el matrimonio, sumisión, mesura, virtud. El amor, en una palabra, se oponía a la virtud”. (15) Assim, não seria de admirar que “una vez alcanzada la meta tradicional de estas ilusiones – o sea, el matrimonio –, el amor se apagaba, tendía a evaporarse”. (16) Varr. Larga-me a capa. Paradoxalmente, convirá reforçar, é a vontade de casar que move a maioria das personagens numa demanda irresistível e, muitas vezes, irracional, mesmo sabendo-se que a vida conjugal seria tudo menos um mar de rosas. Fazendo apelo ao contexto sociocultural da centúria de Setecentos, poderemos, com facilidade, compreender tal atitude: o homem nasceu para casar e perpetuar a espécie. Muitos dos que não conseguiam cumprir este objetivo de vida eram olhados de revés e acabavam por ser rejeitados socialmente. No âmbito do presente estudo, não podemos deixar de assinalar o lado menos favorável do amor, pois também ele marca a intriga dos entremezes de cordel que compulsámos, mormente no que diz respeito ao adultério e à violência doméstica. Terrivel he a pensão de hum homem de bem; que não quer faltar ás qualidades de quem he! Vive em hum labyrintho de cousas, que de contínuo o estão affligindo. […] Os que neste mundo se julgam maiores amigos…, e mais chegados parentes, se conspiram diariamente para fazerem huma viva guerra ao coração de hum homem honrado: a propria mulher, que devia usar da sociedade, em cõmum (sic) beneficio da casa, he a que dá mais rija bateria para a arruinar: os filhos, que pela razão natural deviam concorrer para a felicidade dos pais, assim como estes concorrêram para a sua existencia, e conservação fazem o effeito de huma lima surda, que não cessam de consumir hum pobre pai…. Ah coitado de mim!…. (20) A infidelidade é tratada nos folhetos de cordel com alguma regularidade, sobretudo no que diz respeito ao adultério masculino, muito menos recriminado socialmente que o cometido pela mulher. Assim, a formalização do crime de adultério ocorria unicamente quando era o marido o ofendido. Curiosamente, Verney considera que um dos motivos que contribuíram para a ocorrência do adultério em Setecentos se prende com a ignorância das mulheres que não são capazes de manter uma conversação interessante com os maridos: Persuado-me que a maior parte dos homens casados que não fazem gosto de conversar com suas mulheres, e vão a outras partes procurar divertimentos pouco inocentes, é porque as acham tolas no trato; e este é o motivo que aumenta aquele desgosto que naturalmente se acha no contínuo trato de marido com mulher. Certo é que uma mulher de juízo exercitado saberá adoçar o ânimo agreste de um marido áspero e ignorante, ou saberá entreter melhor a disposição de ânimo de um marido erudito, do que outra que não tem estas qualidades; e, desta sorte, reinará melhor a paz nas família. (21) Por seu lado, a prática da violência doméstica sobre a mulher ajudaria a prevenir eventuais traições. Um pouco por toda a Europa multiplicam-se os casos de violência conjugal e o nosso país não é exceção. Apesar de a civilidade ser um dos bastiões de Setecentos, o elevado número de atrocidades cometidas entre os membros do casal poderá levar-nos a pensar que muita coisa havia ainda a fazer neste campo. As injúrias e os maus tratos físicos eram comuns e não atingiam apenas as classes mais desfavorecidas. Famílias de condição social mais elevada acabavam por padecer dos mesmos problemas. Alguns folhetos de cordel ilustram esta realidade. Tomemos como exemplo o Novo Entremez da Doutora Brites Marta, editado em 1783. Ambrozio, um dos pretendentes de Brites, justifica o facto de muitos homens terem de recorrer à violência física sobre as mulheres como forma de corrigir o seu comportamento desajustado. Atentemos nas acusações que Ambrozio imputa às mulheres e que nos permitem aferir o conceito de recato e obediência femininos do ponto de vista masculino: Do que ouvi, / Dos homens em dezabono; / A Mulher he ∫empre a cauza, / Tem hum génio do Demonio; / Ellas ∫aõ as que os incitaõ / Com ∫eus endiabrados módos. / A faltarem-lhe ao re∫peito, / Quando levaõ bons e∫toiros: / Se algumas vezes ∫e enfadaõ / Per ∫ecula ∫eculorum: / He taõ forte a gritaria / Tanto motim, tanto e∫trondo, / Até lhe querem meter / Os dedos bem pelos olhos: / Já pedindo-lhe, o que querem, / Sem haver menor encontro, / Os çapatos (sic) de Setîm (sic), / Fivella que finja de ouro; / Polvilhos côr de carunxo (sic), / Para a cintura relojo: / Pérolas, fitas, e flores, / Carmim do mais e∫peciozo; / Sinaes de taco taraco. / Pois ∫e he amiga de bolos, / Bem pódem os Confeiteiros / Deitarem-∫e de remolho, / Que tem grande renda, á cu∫ta / Dos pobres maridos tôlos. / Se por de∫graça he tomi∫ta, / Que tem grande amor ao cópo, / vai empenhar nas tavernas / os lançois, e os tra∫tes todos; / elles vendo-∫e enfadados, / uzaõ por ∫eu dezafogo, / a dar-lhe zape catrape, / alli couce, acolá foco, / zus catruz, quem merca os fuzos / chegando-lhe a roupa ao couro. […] Mulheres ha taõ crianças, / e com juizo taõ pouco, / que ∫e acazo naõ ∫e en∫inaõ / prégaõ facilmente o mono. (22) Apesar da violência exercida pelos maridos, as mulheres acabam por perdoar as atrocidades e tudo termina bem, pois, para elas, a situação não é senão normal. A terminar, interessar-nos-á uma referência, ainda que breve, às personagens que dão vida às peças analisadas. A maior parte dos dramaturgos optou por condicionar o comportamento das personagens a clichés preexistentes. Deste modo, emergem dos nossos entremezes personagens que, na sua maioria, são fixas e das quais se espera um comportamento preciso. Há, pois, lugar à participação de velhas apaixonadas, mães e sogras; de velhos rendidos aos encantos das inocentes raparigas e chichisbéus que as acompanham para todo o lado; de um conjunto ainda mais vasto de personagens secundárias facilmente identificadas pelo público e que ajudam a compor as intrigas que, de forma geral, versam, como vimos, o tema do amor e suas inevitáveis consequências. A unir todo este elenco estará, pois, o facto de, direta ou indiretamente, o comportamento das personagens contribuir para a construção de relações, nem sempre amistosas, conforme sustenta o título da comunicação. Acreditamos que o presente estudo, por superficial, não seja suficiente para desvendar o complexo mundo das relações humanas, sobretudo numa época pouco conhecida. Cremos, contudo, que fomos capazes de, pelo menos, “sugerir até que ponto tudo isto é endiabrado”, para retomar as palavras de Ortega y Gasset. (23) O no∫∫o ∫exo na∫ceu fragil, fraco, e ∫ugeito (sic) ao engano: os homens que ∫e reconhecem com ∫uperioridade mais fortes, vegião (sic) a no∫∫a fraqueza, e a maior parte delles o ∫eu intento he arruinar-nos, lembrão-∫e de expre∫sões a (sic) mais fortes, per∫ua∫ivas as mais ∫ublimes, tudo a fim de nos capacitarem de que são verdadeiros os enganos, que elles occultão; ∫e huma vez lhe damos credito, de∫graçadas de nós, a no∫∫o pezar conhecemos depois o que de∫ejariamos conhecer antes. (24) Deparamos, no entanto, com mulheres que não se assumem como inferiores aos homens. Pelo contrário, revelam ser capazes de dispor das vidas deles a seu bel-prazer. São, regra geral, mulheres pretendidas por muitos homens, a quem dão esperanças para depois lograrem. No entanto, acabam presas sentimentalmente a quem de início desconsideraram. O Entremez Intitulado Os Amantes Amarrados, ou A Namorada da Moda, de 1784, constituiu um exemplo feliz do que afirmamos. Anarda revela à criada o modo como trata os homens que de si se aproximam: Pois que queres tu que eu faça? Verifica-se, pois, que, com o avançar do século xviii, o comportamento das jovens começa a mudar: o seu aprisionamento tem os dias contados. Com a moda das Assembleias, (26) as raparigas veem nelas uma forma de saírem de casa e conhecerem pessoas do sexo oposto. A emancipação da mulher passa também por aí: é nestas reuniões que ela começa a falar, a estruturar o seu pensamento, e, para isso, tem necessidade de se instruir, de conhecer outras pessoas, de sair de casa, isto é, de construir o seu próprio espaço de liberdade. Porém, esta situação preocupa cada vez mais os pais, que fecham as filhas em casa ou tentam educá-las num convento, procurando salvaguardar a honra das descendentes. De facto, as jovens solteiras, sobretudo as aristocratas e burguesas, eram tidas, pelos seus pais, como um bem precioso que urgia proteger dos pretendentes considerados pouco recomendados. […] mas que fazer devo? Publicar o mao portamento de meu marido? I∫∫o naõ, morrerei embora á força de di∫go∫tos, a indigencia, a fera indigencia me oprimirá; mas minha lingoa (sic) já mais (sic) dirá coiza, em que mo∫tre o motivo do meu martirio. (28) As constantes discussões com o marido, que tenta, por tudo, manter a mulher fechada em casa, levam-na a odiá-lo e a arrepender-se amarguradamente do dia em que casou. Consequentemente, no entanto, as personagens femininas dos folhetos são bem distintas e opõem-se à imagem tradicional da mulher que acima tratámos. São esposas insubmissas, contestatárias e, sobretudo, reclamam certas liberdades que os maridos não estão dispostos a conceder. (29) Representam, assim, um corte bastante significativo com a ordem anteriormente estabelecida sobre o comportamento feminino. São, portanto, estas as mulheres que surgem nos folhetos a contrariar as leis tradicionais que estabeleciam a superioridade do marido. É o que observamos no folheto A Mulher Reformada, e o Marido Satisfeito, de 1785: a Mulher fala com a Vizinha acerca da dificuldade em sujeitar-se ao marido, vendo no casamento uma prisão: Antigamente, alguma razaõ tinha, As discussões entre marido e mulher prendiam-se, fundamentalmente, com a vontade desta de promover em sua casa assembleias, de se vestir e pentear à moda, de passear, ou de frequentar o teatro e bailes. Com todos estes desejos latentes, a mulher descura as lides domésticas, por ela consideradas escravatura. Invariavelmente, todos (31) os folhetos terminam da mesma forma: a mulher acaba por se arrepender do que disse ou fez, pedindo perdão ao marido, que sempre a desculpa. É evidente que esta atitude da mulher tem a ver com a ameaça do marido que apontava para o ingresso forçado num convento. No entanto, os argumentos usados pelas esposas são interessantes porque reveladores da mentalidade da época. Merecem igualmente referência as diversas categorias de personagens masculinas que compõem o elenco das peças de teatro que cotejámos e que poderemos reunir em dois grupos. Por um lado, as personagens ociosas, que têm como principal objetivo de vida a conquista de uma mulher cujo dote lhes permitirá uma vida desafogada. Desprovidas, na maior parte das vezes, de qualquer sentimento puro para com as pretendentes, tudo fazem para alcançar os seus intentos. Neste rol encontramos sobretudo os peraltas, normalmente jovens, com uma vida social bastante ativa, que frequentam as assembleias e ali se encontram com as raparigas que tentam seduzir, o que parece constituir uma ameaça à ordem estabelecida devido ao seu comportamento libertino. E que ha de huma louca filha querer de∫truir, e abater, aquelle me∫mo ideficio (sic), que o Pai com o maior trabalho tem fabricado para a ∫olida ezi∫tencia (sic) do ∫eu credito, que lamentavel de∫graça; as filhas loucas do ∫eculo corrompido, e e∫tragado, o ∫eu querer he a ∫ua vontade, ∫arraõ (sic) os ouvidos á razaõ, e aquellas vozes que ∫e derigem (sic) a de∫viallas das bordas do precepicio (sic), ellas as de∫prezaõ, que fadigas, que au∫teros trabalhos naõ cu∫ta a criaçaõ de huma filha? (35) No entanto, poucas são as raparigas que dão ouvidos aos pais. Cegas pelo amor, acreditam que os amantes peraltas serão incapazes de as enganar. [a] elevada idade à data do casamento faria com que, quando a geração seguinte ambiciona casar, a geração anterior está próxima do fim útil da vida ativa. O número de casamentos em que um dos noivos, ou ambos, são órfãos de um dos progenitores é muito elevado. Isso parece indicar que a esperança média de vida e a idade média do casamento são variáveis interligadas de forma lógica. (38) Por isso, em muitos folhetos, a filha queixa-se e lamenta o facto de a mãe não estar viva, tendo de se sujeitar à vontade do pai que, na maior parte dos casos, é quem dita o destino dos descendentes. Aliás, são poucas as mães chamadas a pronunciar-se sobre as uniões dos filhos e só o fazem quando são viúvas ou têm maridos impossibilitados de, publicamente, manifestarem a sua vontade. Saliente-se que, muitas vezes, este poder é exercido por tutores ou curadores: tios, irmãos ou outros familiares, no seguimento daquilo que, desde a época romana, tinha sido prática corrente. Ah Pais, que vós ∫ois a cauza de que as filhas o recato percaõ, faltando aos preceitos, e ao paternal agrado; pois quereis ao vo∫∫o go∫to unir os e∫treitos laços do hymeneo ∫endo o motivo talvez de fins de∫graçados! Avarentos, orgulhozos, bu∫cais ás filhas e∫tado contra ∫eu go∫to, fazendo, que dentro de poucos annos ∫e converta em dura guerra o que foi da paz pre∫agio (sic). (39) As palavras da jovem rapariga são justificadas pelo facto de seu pai querer, a todo o custo, casá-la com um idoso cavalheiro de setenta anos. Mas o coração da pobre filha está preso a outro homem bastante mais jovem e, supomos, atraente. Este, contando com o apoio incondicional do criado, trata de entrar em casa de Arminda, disfarçando-se de médico e, assim, consegue enganar o velho avarento e salvar a moça do seu infeliz destino. Merece uma última nota o par de personagens subalternas, dignas dos favores do público, a quem já nos referimos anteriormente: a criada e o gracioso. Fazendo parte do dia a dia das famílias burguesas retratadas nos folhetos de cordel, os criados foram sempre muito próximos dos amos solteiros. Aproveitando esta realidade, o dramaturgo coloca ao seu serviço indústrias que idealizam e concretizam, servindo expedientes cómicos, completados por intervenções inusitadas de pendor brejeiro que suavizam os momentos de tensão gerados entre as personagens. Por isso, acabam por ser os grandes impulsionadores da intriga ao terem a capacidade de solucionar o que parece irresolúvel. A presença do criado gracioso nas peças estudadas é colocada ao serviço do cómico, ao “tomar a seu cargo a parte galhofeira da peça, fazer rir o público com a sua chalaça por vezes um tanto pesada.” (42) Por isso, “[q]uando aparecia o gracioso, já se sabia de antemão o que ia dizer e fazer, aquilo que se lhe podia exigir: fazer rir, não importava como e à custa de que trocadilhos grosseiros, casar no fim com a criada da primeira dama.” (43) Figura imprescindível na maior parte dos folhetos de cordel, o gracioso não esgota a sua intervenção ao imprimir um cunho cómico ao texto. À semelhança do aproveitamento que dele fez António José da Silva, também cada um dos autores dos entremezes e pequenas peças de teatro setecentistas “se da boca do gracioso fez sair muita graça grosseira, também nela pôs comentários as mais das vezes justos e onde despontava uma ligeira crítica de cuja pretendida ousadia ele foi a primeira vítima”. (44) Naõ ha vida mais di∫graçada, do que a de hum criado de ∫ervir. Todos os Officios e∫taõ perdidos. Trabalho, e mais trabalho: porém, i∫to de paga, tal dia fez hum anno. Sim ∫enhores. Hum Amo nos tempos de agora, em tendo hum criado de ∫ervir, pen∫a, que tem hum jumento, com perdaõ de Vv. mm. Naõ ha ocupaçaõ em que o naõ meta; mas todas de pouca honra, e menos proveitos. Naõ os fazem elles trabalhar na nora; mas fazem anda-los n’uma roda viva. Pois, ∫e elle tem amores…..? Entaõ logo querem que ∫ejaõ bons….. &c. I∫to he; que dem (sic) bem o recado: e ∫e naõ tem e∫∫e pre∫timo, lançaõ-no de almargio. Eu fallo por mim. Meu Amo morre por e∫ta filha do Doutor Tiburcio. O mizeravel naõ lhe póde fallar pela cautella do Pai, que a guarda, como a menina dos ∫eus olhos. Quer meu Amo á força, que eu lhe entregue e∫ta carta, em que lhe explica, o muito que lhe quer. Eu tenho ideado huma, que ∫e fico bem, tenho muito que contar: certamente ∫ou hum grande homem. Forte premio me e∫pera: meu Amo he liberal, como a ponta de hum e∫peto ∫em carne: porém Eu naõ ∫ou intere∫∫eiro: ba∫ta, que lhe ∫aque o relojo, que he galante peça. Vamos a procurar o tal Doutor, e ver, ∫e entrego a carta; pois, quando naõ tire outro fruto, ∫empre me farei conhecido da cozinheira, que he forte delanbida (sic). Vamos depre∫∫a, antes que ∫e faça noite, para ver ∫e acho alguma introducçaõ. (45) As queixas costumadas prendem-se com o excesso de trabalho e com a falta de pagamento por parte dos amos, que não respeitam os criados. No entanto, no que toca aos amores, contam com a ajuda incondicional destes. Mas os seus préstimos são interesseiros: sabem que, ao favorecerem a união dos amos, irão receber uma gratificação que permitirá a sua independência monetária. Poderão igualmente casar e serem donos da sua própria casa, um sonho acalentado por muitos, mas que poucos concretizavam. Situação semelhante é operada no que diz respeito à construção da criada. Havia, por isso, um problema que parecia toldar a felicidade das criadas apaixonadas: elas estavam impedidas de casar por falta de dote. Só quando as suas amas casassem, estas poderiam fazer o mesmo, pois receberiam o necessário ao enlace. Não esqueçamos que, para as pessoas com parcas condições económicas, casar representava uma despesa que nem sempre era suportável. No momento em que somos obrigados a silenciar-nos, temos perfeita consciência de que muito mais poderíamos ter dito se tivéssemos ao nosso dispor tempo e espaço para, com detalhe, tratarmos todos os aspetos contidos na totalidade do corpus que reunimos. A riqueza de cada texto é imensa e um trabalho exaustivo poderia fazer luz sobre outros aspetos que nos abstivemos de considerar. Resta-nos a esperança de, um dia, revisitarmos os nossos escritos e continuarmos a prazenteira viagem ao mundo do teatro de cordel.
(1) Cf. Ana Margarida Ramos, Os Monstros na Literatura de Cordel Portuguesa do Século xviii, Lisboa, Edições Colibri, 2009. (2) Cf. José Oliveira Barata, História do Teatro em Portugal (Séc. xviii) – António José da Silva (O Judeu) no Palco Joanino, Algés, Difel, 1998. (3) Denis de Rougemont, Os Mitos do Amor, Lisboa, Livros Horizonte, 2001, p. 9. (4) Entremez Intitulado Industrias de Lesbina, Lisboa, Na Officina de Francisco Sabino dos Santos, m.dcc.lxxiii, Com licença da Real Meza Cen∫oria, p. 6-7. (5) Novo, e Divertido Entremez Intitulado Os Tres Cazamentos Gostozos, Lisboa, Na Officina de Francisco Borges de Sousa, Anno de 1792, Com licença da Real Meza da Commi∫∫aõ Geral ∫obre o Exame, e Cen∫ura dos Livros, p. 7. (6) Ibidem. (7) Novo Entremez Intitulado A Doente Amoroza, e o Cirurgiam Amante,Composto por Joaquim Sergio de Oliveira (sem referências), p. 21. A probabilidade de este folheto pertencer ao século xviii é elevada, se tivermos em conta que o editor Francisco Borges de Sousa exerceu a sua atividade entre os anos de 1781 e 1792 (cf. http://www.europeana.eu/ portal/record/00101/C1839D64B9F0E108AF0F0800B4927E0C3C393626.html?start=9, consultado em 10 de outubro de 2012). (8) Novo Entremez Intitulado O Pai Zeloso da Honra, Lisboa, Na Officina de Lino da Silva Godinho, Anno m.dcc.lxxxviii, Com licença da Real Meza da Commi∫∫aõ Geral ∫obre o Exame, e Cen∫ura dos Livros, p. 2. (9) Entremez Novo da Castanheira, ou A Brites Papagaia, Lisboa, Na Officina de Filipe da Silva e Azevedo, Com Licença da Meza do Desembargo do Paço, s/d, p. 5. Para Luiz Francisco Rebello, o autor da peça é José Caetano de Figueiredo (Breve História do Teatro Português, Lisboa, Publicações Europa-América, 2000, p. 83). O investigador destaca ainda uma edição de 1785, no seguimento das considerações de Albino Forjaz de Sampaio. Este último acrescenta duas edições, datadas de 1792 e 1798. Possuímos a edição mais recente. (10) Novo Entremez Intitulado O Velho Prezumido, e Enganado, e por fim Chorando, e Vendo,Lisboa, Na Officina de Antonio Gomes, Com licença da R. Meza da Com. Geral ∫obre o Ex. E Cen∫. dos Livros, s/d, p. 6. (11) Entremez Intitulado O Castigo da Ambiçaõ, ou o Velho Avarento, Enganado, e Desenganado, Lisboa, Na Offic. de José da Silva Nazareth, Anno de mdcclxxi., Com Licença da Real Meza Cen∫oria, p. 3-4. (12) Novo e Divertido Entremez Intitulado O Cazamento de huma Velha com hum Peralta, e a Má Vida, que Elle Lhe Deu, Lisboa, Na Officina de Domingos Gonsalves, Com licença da Real Meza Cen∫oria, s/d, p. 15. (13) Dominique Godineau, « La femme », in Michel Vovelle (dir.), L’Homme des Lumières, Paris, Éditions du Seuil, 1996, p. 438. (14) Carmen Martín Gaite, Usos Amorosos del Dieciocho en España, Barcelona, Editorial Lumen, 1981, p. 183. (15) Ibidem. (16) Ibidem. (17) Entremez do Soldado Valentaõ, Lisboa, Na Officina de Francisco Sabino dos Santos, m.dcc.lxxiii, Com licença da Real Meza Cen∫oria, p. 3. (18) Sara F. Matthews Grieco, “O corpo, aparência e sexualidade”, em História das Mulheres – do Renascimento à Idade Moderna, Volume 3, Porto, Edições Afrontamento, 1994, p. 114. (19) Ibidem. (20) Entremez do Velho Cismatico, Lisboa, Na Officina Luisiana, Anno de m.dcc.lxxviii, Com licença da Real Meza Censoria, p. 1. (21) Luís António Verney, Verdadeiro Método de Estudar, Volume v, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1952, p. 126. (22) Novo Entremez da Doutora Brites Marta, De Pedro Antonio Pereira, Comico Portuguez, Lisboa, Na Officina de Domingos Gon∫alves, Anno 1783, Com licença da Real Meza Cen∫oria, p. 14-15. (23) Ortega y Gasset, Estudos Sobre o Amor, Lisboa, Relógio d’Água Editores, 2002, p. 244. (24) Novo Entremez da Doutora Brites Marta, p 15. (25) Entremez Intitulado Os Amantes Amarrados, ou A Namorada da Moda, Lisboa, Na Offic. de Francisco Borges de Sousa, Anno de m.dcc.lxxxiv, Com licença da Real Meza Cen∫oria, p. 9. (26) De acordo com Maria Alexandre Lousada, “[t]em-se sugerido que as origens do salão se podem encontrar nas reuniões da corte, convocadas com uma certa regularidade pelo monarca, onde se dançava, ouvia música e jogava.” (“Novas formas: vida privada, sociabilidades culturais e emergência do espaço público”,in História da Vida Privada em Portugal, Lisboa, Temas e Debates, 2011, p. 443). (27) No entanto, alguns folhetos fazem passar a ideia de que as raparigas com menos de 21 anos são muito novas para casar, como sucede com o Novo Entremez Intitulado O Poeta Pobre Novo Entremez Intitulado O Poeta Pobre, Lisboa, Na Officina de Domingos Gonsalves, Anno mdcclxxxiv, Com licença da Real Meza Cen∫oria, quando o Poeta conversa com Brites acerca de Maricas, na p. 13: (28) Novo, e Devertido (sic) Entremez Intitulado A Noiva Prudente, e o Marido Estragador, Lisboa, Na Offic. de Domingos Gonsalves, Anno mdcclxxxvii, Com licença da Real Meza da Commi∫∫aõ Geral ∫obre o Exame e Cen∫ura dos Livros, p. 3. (29) Maria José Moutinho Santos refere, a este propósito, que “[t]ais posturas não podem […] ser tratadas à letra por demasiado evoluídas para a maioria da sociedade, mas serão já prenúncio de uma certa mudança de mentalidade, ao nível das camadas mais cultas”, O Folheto de Cordel – Mulher, Família e Sociedade no Portugal do Séc. xviii (1750-1800), Dissertação de Mestrado em História Moderna, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1987, p. 61. (30) A Mulher Reformada e o Marido Satisfeito. Obra Alegre, Moral, e Recreativa, Lisboa, Na Offic. de Antonio Rodrigues Galhardo, Impre∫∫or da Real Meza Cen∫oria, Anno 1785, Com licença da me∫ma Real Meza, p. 14. (31) Analisando todos os folhetos que possuímos, encontrámos apenas uma peça em que isso não acontece. Trata-se do Novo, e Devertido Entremez Intitulado A Impertinencia das Mulheres, e a Paciencia dos Maridos,Lisboa, Na Officina de Franci∫co Borges de Sou∫a, Anno de 1792, Com licença da Real Meza da Commi∫∫aõ Geral ∫obre o Exame, e Cen∫ura dos Livros. Aqui, a mulher não abdica das suas pretensões e o marido, porque é fraco, deixa-se dominar totalmente por ela. (32) Novo e Divertido Entremez Intitulado O Cazamento de huma Velha com hum Paralta, e a Má Vida, que Elle Lhe Deu, Lisboa, Na Officina de Domingos Gonsalves, Com licença da Real Meza Cen∫oria, s/d, p. 10. (33) Idem, p. 9. (34) A propósito dos costumes dos peraltas, vd. sobretudo a peça Incizam Joco-seria, Anatomica, Critica, Feita no Corpo Lisbonense Peraltico pelo Licenciado Damazio Montoja Qveimaço, e pelo Me∫mo Author Reduzida a Dialogo Lisboa, Na Officina de Manoel Coelho Amado, Anno m.dcc.lxxi., Com licença da Real Meza Cen∫oria; o Entremez As Basofias dos Peraltas, Descobertas, e Castigadas, Lisboa, Na Offic. Patr. De Francisco Luiz Ameno, m. ddc. Lxxxiv, Com licença da Real Me∫a Cen∫oria; a Nova Palestra que Teve hum Velho Campones por Nome Trifonio com hum Peralta de Lisboa por Nome Belmiro,por Bento Alves Coutinho,Lisboa, Na Officina de Filippe da Silva e Azevedo, Anno 1785, Com licença da Real Me∫a Cen∫oria; o Entremez As Industrias dos Casquilhos Critico, e Moral pelas Reflexoens, que ∫e Fazem ∫obre os que Ga∫taõ mais, do que as ∫uas Po∫∫ibilidades, e naõ Querem ∫ugeitar-∫e a Trabalhar, Lisboa, Na Officina de Filippe da Silva e Azevedo, Anno de 1786, Com Liçença da Real Me∫a Cen∫oria, bem como o Entremez Intitulado Apparato de hum Casquilho para Sahir a Dar as Boas Fe∫tas, Lisboa, Na Officina de Filippe da Silva e Azevedo, Anno de 1786, Com Licença da Real Meza Cen∫oria. (35) Novo Entremez Intitulado A Sem Seremonia (sic), com que os Homens Enganam as Raparigas,Lisboa, Na Offic. de Domingos Gonsalves, Anno mdcclxxxvii, Com licença da Real Meza Cen∫oria, p. 3. (36) Novo Entremez Intitulado Os Amantes Arrufados,Na Officina de Antonio Gomes, Com Licença da Real Meza da Commi∫∫aõ Geral ∫obre o Exame, e Cen∫ura dos Liv., s/d, p. 3. (37) Joaquim Ramos de Carvalho, “As sexualidades”, em História da Vida Privada em Portugal, p. 106. (38) Ibidem. (39) Entremez Intitulado O Castigo da Ambiçaõ, ou o Velho Avarento, Enganado, e Desenganado, Lisboa, Na Offic. de José da Silva Nazareth, Anno de mdcclxxi., Com Licença da Real Meza Cen∫oria, p. 7. Cf. a Nova Pessa, Intitulada O Mizeravel Enganado, Lisboa, Na Officina de Franci∫co Borges de Souza, Anno de 1788, Com licença da Real Meza da Comi∫∫aõ Geral ∫obre o Exame, e Cen∫ura dos Livros, que aborda a mesma temática: um velho avarento que, para poupar dinheiro, está disposto a tudo, mesmo que, para isso, tenha de sacrificar a própria família. De acordo com Marie-Noëlle Ciccia, ambas as peças são inspiradas em L’Avare, de Molière (Marie-Noëlle Ciccia, Le Théâtre de Molière au Portugal au xviiie siècle, Paris, Centre Culturel Calouste Gulbenkian, 2003, p. 487). (40) Entremez Intitulado A Astucioza Ideia, com que o Creado enganou o Amo para o Cazamento do Peralta, que ∫e Fingio Velho, e Inimigo de Jogar o Entrudo,Lisboa, Na Officina de Felippe Jozé de França e Liz, Anno m.dcc.xc, Com licença da Real Meza da Commi∫∫aõ Geral ∫obre o Exame, e Cen∫ura dos Livros, p. 7. (41) Novo Entremez Intitulado: O Peralta Vaidozo, e o Velho Prezumido,Lisboa, Na Off. De Franci∫co Sabino dos Santos, Com licença da Real Meza Cen∫oria, An. 1779, p. 1. (42) Maria Helena Lavrador, Alguns Aspectos da Sociedade Portuguesa do Século xviii através do seu Teatro Original e Traduzido, Tese de Licenciatura em Filologia Românica, Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1945, p. 33. (43) Ibidem. (44) Ibidem. (45) Novo, e Devertido (sic) Entremez Intitulado Nem por muito Madrugar Amanhece mais Cedo, s/l, Na Of. de Antonio Gomes, Com licença da Real Meza da Commi∫∫aõ Geral ∫obre o Exame e Cen∫ura dos Livros, s/d, p. 2.
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