Um catálogo de folhetos de cordel científicos e uma sequência de ensino

Francisco Augusto Silva Nobre


Universidade Regional do Cariri – Université de Poitiers
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Dentre as tantas facetas dos cordéis, o seu uso como ferramenta didática para o ensino das ciências é o que tentaremos evidenciar neste texto.

Inicialmente viajaremos pelas origens dos folhetos de cordéis (1) nordestinos, pincelando algumas polêmicas, como a de sua origem, o fato de que estes não podem ser entendidos exatamente, ou somente, como literatura, mas também como divulgador de notícias e de conhecimentos. E mesmo neste ponto inicial do texto, este é direcionado para a discussão dos folhetoscientíficos, destacando a figura do poeta Gonçalo Ferreira da Silva como o poeta maior deste gênero.

Na segunda parte abordaremos especificamente o uso dos folhetos como ferramenta didática para o ensino das ciências, ressaltando sua relação com as teorias didáticas, como: a Pedagogia de Paulo Freire, com seu ensino contextualizado e que tem o diálogo como base na relação professor-aluno, a Teoria de Aprendizagem de David Ausubel, que explora os conhecimentos prévios dos alunos, e ainda faremos a relação dos folhetos com o chamado Enfoque CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) para o Ensino das Ciências, o qual relaciona profundamente o mundo do estudante com o que é discutido em sala de aula, mostrando que a ciência está realmente presente em sua vida.

Em seguida, descreveremos suscintamente um Catálogo de Folhetos Científicos que está em construção, e também apresentaremos uma sequência de ensino para o uso dos folhetos de cordéis em sala de aula, sendo esta inspirada na sequência FEDATHI (2) e na própria didática do ensinar contida nos folhetos.

E para finalizar, analisaremos alguns folhetos de cordéis sob o ponto de vista didático, explorando pontos para orientar o professor para seu uso em sala de aula, seguindo com algumas conclusões.


Introdução

Ao que chamamos hoje de literatura de cordel nordestina, acredita-se ter sua origem nos cantadores que apresentavam suas histórias em forma de versos: histórias do cotidiano, da política, da realidade nordestina, das notícias e do conhecimento humano. O termo literatura de cordel realmente tem origem ibérica, e era usado popularmente em Portugal para se referir à produção de literatura de baixo custo. No Brasil, no entanto, no século XIX e ainda no século XX, usava-se o termo literatura defolhetos, ou simplesmente folheto, que também tinha o objetivo de ser barato e popular. O termo literatura de cordel nordestina só começa a ser utilizado no Brasil na década de 1970, quando estudiosos defendiam que a própria origem de nossos folhetos era ibérica. Os nossos folhetos são sempre em versos e rimados, e abordam os mais variados temas, da ficção às notícias e aos conhecimentos científicos.

Pensando nos cantadores europeus ainda antes da invenção da tipografia (em 1450 por Gutemberg), é importante destacar que estes se colocavam como a única mídia de transmissão de notícias e conhecimentos, sendo as novidades transmitidas por cantadores ou cantadoras profissionais. As notícias manuscritas sobre folhas de papel devem ter iniciado no século XI ainda levadas pelos cantadores, e o cantar continuou apenas como “performance” para a venda dos poemas impressos, os quais continuavam transmitindo notícias, novidades e conhecimentos. (3)

Caminho semelhante foi seguido pelos poetas nordestinos a partir do início do século XIX, inicialmente com as cantorias e seguindo com todo o processo de editoração e divulgação dos folhetos. Popularizaram-se as cantorias, a poesia, os desafios entre os cantadores, sendo considerado o poeta e cantador Agostinho Nunes (1797-1858), da serra do Teixeira no interior da Paraíba, uma figura fundadora, e o poeta Leandro Gomes de Barros como responsável pelo início da publicação sistemática dos cordéis brasileiros no início do século XX. (4)

Entendemos ser necessário ressaltar que os folhetos de cordel não podem ser pensados somente como literatura, pois desde sua origem, na oralidade com os cantadores, ou mesmo como cordéis na Europa, ou já como folhetos no nordeste do Brasil, estes já funcionavam também como mídias, como “jornais”, propaganda, divulgadores de notícias e de conhecimento humano, o que nos leva a dizer que o ensinar já estava aí colocado.
Reforçando a ideia que os folhetos funcionavam como divulgadores de notícias no interior do Brasil, fazendo “às vezes” de jornais, transcreveremos abaixo um trecho do livro Estudos sobre a Poesia Popular no Brasil de Sílvio Romero:

Nas cidades principaes do império ainda vêem-se nas portas de alguns theatros, nas estações das estradas de ferro e noutros pontos, as livrarias de cordel. O povo do interior ainda lê muito as obras de que falamos; mas a decadência por este lado é patente: os livros de cordel vão tendo menos extracção depois da grande inundação dos jornaes. (5)

Neste trecho do livro, apesar da predição não confirmada do fim dos folhetos de cordéis, é explicitado que os jornais começam a entrar de forma intensa pelo interior do país, provocando, naquele momento, a diminuição da tiragem dos folhetos. Ou seja, os folhetos realmente funcionavam também como “jornais”, divulgadores de notícas no interior do Nordeste. Mas, mesmos com a chegada dos jornais, por muitas décadas os folhetos continuaram no interior do Nordeste como fonte privilegiada de acesso às notícias. E, a partir daquele momento também, os próprios poetas usavam os jornais como fonte primária para colher as notícias que seriam transcritas e divulgadas em verso.

No século XX, entre as décadas de trinta e cinquenta, ocorreu no Nordeste um apogeu da literatura de cordel, quando foram montadas as redes de produção e distribuição dos folhetos, bem como introduzidas inovações na sua impressão, consolidando o formato utilizado até hoje, o que levou a popularização desta arte, contrariando as predições de Sílvio Romero (1879,1880). Mas os folhetos impressos vieram a ter uma maior visibilidade em 1960, quando a Fundação Casa de Rui Barbosa, (6) uma instituição de caráter estatal ligada ao Ministério da Educação e Cultura, no Rio de Janeiro, deu início a um projeto editorial voltado à publicação de estudos críticos sobre o folheto de cordel brasileiro, quando lançou um importante catálogo.

Quanto aos folhetos que abordam temáticas das ciências, temos nas últimas décadas os poetas Gonçalo Ferreira da Silva, Manoel Monteiro, Lorena Braga Sales, Elias A. de Carvalho e o jovem Josenildo Maria, para citar alguns, que produziram em todas as suas etapas cordéis que podem ser usados no ensinar e no divulgar da ciência, seja pelos conceitos ditos “corretos”, seja no contraditório do “senso-comum”, que estimula a se pensar novamente: “Do que as coisas são feitas?”, “Por que as estrelas não caem?” “O que nos mantem vivos?”, “O que é essa tal de internet?”, e tantas outras perguntas que instigam e continuarão a viajar na mente humana.

Como exemplos de títulos dos últimos 20 anos, temos os cordéis: Galileu Galilei – Vida e Obra; O Planeta Água Está Pedindo Socorro; Astronomia – A Maravilhosa Ciência Celeste; O que é Ecologia; ABC do corpo Humano; Como Funciona o Computador; O “Big Bang” em Cordel (figura abaixo) e A Física em Cordéis - Ondas.

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Imagem I. Folheto de Cordel do Acervo de Obras Raras Átila Almeida

Os folhetos Donzela Teodora (Leandro Gomes de Barros) e Uma Viagem em Aeroplano até a Lua (João Martins de Athayde), ainda no início do século passado, podem ter sido os primeiros folhetos impressos divulgados amplamente no Brasil que abordam o tema das ciências, sendo o segundo (gravura abaixo) um folheto de ficção científica que prevê uma viagem à Lua, tantas décadas antes do homem realmente chegar até ela. Aliás, o tema da viagem do homem à lua foi bastante explorado nas décadas de 1960 e 1970, como é hoje o tema da Ecologia e do Meio Ambiente, demonstrando o quanto os poetas estão conectados com o mundo, ao mesmo tempo em que mantêm sua tradição de transmitir notícias e conhecimentos.

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Imagem II. Folheto de Cordel do Acervo de Obras Raras Átila Almeida

O poeta Gonçalo Ferreira da Silva, presidente e fundador da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, cearense radicado no Rio de Janeiro, é o que mais produziu folhetoscom a temática das ciências exatas (até hoje, mais de cinquenta). Se destaca não somente pela quantidade, mas também pela variedade dos temas, pela beleza dos versos, pela profundidade e rigor científico, e ainda, pelo cuidado didático: escreve como se estivesse ensinando para um grupo de estudantes.

Temos também o poeta Josenildo, de Campina Grande, que produz folhetos especificamente para o ensino de física. Motivado pelo talento para criação de versos e por uma dissertação de mestrado em Ensino de Ciências da Universidade Estadual da Paraíba, já produziu mais de 10 folhetos para o Ensino de Física.

Viajando um pouco mais atrás nas origens dos folhetos científicos, temos que entre os cantadores, antes dos folhetos impressos, o tema das ciências já era explorado. Era comum num desafio de cantadores tentarem derrotar o adversário testando seus conhecimentos gerais. Os cantadores chamavam “cantar em ciência” a proposição de charadas e de perguntas sobre ciências, geografia, História, etc. Era dessa forma que a maioria das pelejas encontrava seu fim, quando um dos cantadores propunha uma questão para a qual seu oponente não estava preparado. Como bem lembrado por Márcia Abreu, temos o célebre desafio entre Francisco Romano e Inácio da Catingueira, ocorrido por volta de 1874, que, segundo relatos, teria terminado assim:


Romano
Então deves conhecer,
De Cabo, Estreitos e Mar,
Os golfos, as raças todas.
Deve estar de tudo ao par
Afina tua cachola.
Lá vou eu te perguntar.

Inácio
Patrão, faça ponto aí.
Nesse embrulho é que eu não vou
Você quer que eu lhe diga
O que ninguém me ensinou,
A geografia é difícil
Dela eu muito longe estou.

Pelo descrito até aqui, constatamos que o “escrever” e o “declamar” sobre questões científicas não é algo novo. Inicia-se na oralidade antes mesmo dos primeiros folhetos impressos. Assim, entendemos que os poetas cantadores eram verdadeiros transmissores de conhecimento, e desde o início já se identificava aí o ato de ensinar. Se a arte da poesia, do declamar, do cantar, já foi usada há tantos séculos na Europa e no Nordeste do Brasil como transmissor do conhecimento, por que não usá-las hoje no ensino regular? Por que não usar estas poesias impressas e declamadas, como ferramenta didática para o ensino da matemática, da física, da química e da biologia, áreas do conhecimento muitas vezes tão áridas de ensinar e aprender? No sentido mais de popularização das ciências, já existe o trabalho, mas o que propomos aqui é a utilização dos folhetos para o “ensinar”, usando-os como uma ferramenta didática.

A seguir faremos a relação entre os folhetos de cordel e as teorias de aprendizagem.


Os folhetos como ferramenta didática para o ensino das ciências

Entendemos que os folhetos de cordel não devam ser preservados somente como relíquias da tradição nordestina, algo pitoresco e visto muitas vezes de forma preconceituosa. Queremos usá-los como divulgador das ciências, mas também em sala de aula como ferramenta didática no processo ensino-aprendizagem, e ao mesmo tempo incentivar uma maior produção dos chamados folhetoscientíficos.

Os conteúdos das chamadas ciências exatas, como regra, são transmitidos para que os alunos assimilem mecanicamente fórmulas, nomes e leis, não levando o estudante a discussão dos conceitos e suas aplicações, para que de fato aconteça o que entendemos como aprendizado. É o que é chamado por Paulo Freire (1987) de “ensino bancário”: o professor diz as verdades que o aluno deve guardar em sua mente. Não existe diálogo, não se descobre e nem se explora o saber do aluno, seus conhecimentos prévios e sua vivência. Nesse contexto, temos também a Aprendizagem Significativa de David Ausubel (1968), a qual coloca que uma nova informação interage com uma estrutura de conhecimentos prévios do aluno, e a partir desta interação acontece o aprendizado de um novo conceito, ou uma ressignificação.

Paulo Freire aborda também a questão do ensino descontextualizado. Nessa linha de raciocínio, hoje é também bastante discutido o ensino de ciências no contexto CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade). Um ensino que leva o estudante a associar diretamente o que se discute na escola com a ciência e a tecnologia que ele usa de fato, com seu contexto social, sua vida, o que acontece na sua rua, no seu colégio, na sua cidade e no mundo, mostrando que a ciência deve estar ao serviço da sociedade que o cerca; Décio Auler (2009).

Entendemos que em grande medida, os folhetos científicos exploram o que os leitores já sabem ou já ouviram falar, conectando a nova informação com o conhecimento prévio do indivíduo. Outra característica que consideramos importante nos folhetos é que o conteúdo de sua poesia é contextualização com o mundo, com a política, religião, tecnologia, ecologia, etc. O que nos leva a afirmar também que estes já aplicam o enfoque CTS, pois os poetas falam também sobre o que os cerca e sobre os eventos atuais da sociedade, locais, nacionais e mundiais.

Então, os folhetos podem se colocar como uma ferramenta perfeitamente aceita dentro das teorias pedagógicas e de suas didáticas, além de ser uma excelente ferramenta lúdica para o “ensinar”. E também se pode exercitar a interdisciplinaridade tão apregoada nos PCN´s (7) (MEC, (8) 1997) para a educação brasileira. Podemos exercitar o ensino das ciências dialogando com a arte da poesia, com o declamar, com a gramática, a linguística, a história e a leitura.

Acreditamos que o uso dos folhetos como recurso didático, pode contribuir para superação de uma pedagogia tradicional, centrada na exposição excessiva do professor e na assimilação passiva do aluno. O folheto deve se constituir como elemento mediador de uma proposta pedagógica pautada em princípios como: relação dialógica professor-aluno; criação de espaço para a pergunta e a problematização; aluno como sujeito ativo de sua aprendizagem; relação teoria-prática; interdisciplinaridade; contextualização do conteúdo em estudo.

Tendo em vista a constatada lacuna de arquivos e publicações que exploram a produção poética com abordagem das chamadas ciências exatas e a necessidade de tornar o ensino das ciências exatas algo mais motivante, estamos desenvolvendo um catálogo da produção de folhetos de cordel que abordem o tema das ciências, e associada a este catálogo, estamos propondo também uma sequência de ensino para auxiliar os professores quando da utilização dos folhetoscomo ferramenta didática para o ensino das ciências.


Um catálogo de folhetos de cordéis científicos e uma sequência de ensino

Entendemos que os folhetos de cordel, além de um ótimo instrumento de popularização das ciências, podem também se constituir numa excelente ferramenta didática para o ensino das ciências exatas, sendo este o grande motivador para o desenvolvimento de um material que possa ajudar o professor na difícil tarefa do ensinar.

Resolvemos classificar os folhetoscientíficos, como exposto a seguir, respeitando a dinâmica dos Poetas:

  • Constatamos que é recorrente entre os poetas cordelistas o tema das grandes personalidades, não sendo diferente quando vamos para os folhetos científicos. Muitos dos conteúdos de ciências são expostos evocando uma grande personalidade com sua vida e obra, como: Einstein, Kepler, Ptolomeu e tantos outros.

  • A categoria eventos marcantes, outra marca dos poetas, também está destacada no catálogo que estamos desenvolvendo, onde aparece um grande número de folhetos abordando a conquista da Lua e a passagem do cometa Halley.

  • Criamos a classificação de folhetos de ficção, o que seria de fato ficção científica. Como por exemplo, o folheto A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores, que mesmo sem rigor científico, mas com belos versos e muita imaginação, pode ser explorado para discutir o que a ciência descobriu sobre o planeta marte e qual a possibilidade, sob o ponto de vista do conhecimento científico atual, de haver vida naquele planeta.

  • Temos ainda classificação direta das áreas: física, astronomia, matemática e química, sendo a física e a astronomia as áreas mais abundantes. Estes também são folhetos que podem ser trabalhados diretamente em sala de aula, pois nos passam a sensação que já foram de fato pensados para esse propósito.    

  • Resolvemos criar também a seção Outros Suportes, onde caberão livros, sítios da internet, e tantas outras mídias que tragam a arte dos folhetos de cordel, em especial os científicos.

Vejamos na página seguinte um resumo do Catálogo com seu formato original.

Catálogo

Folhetos de cordéis científicos
Volume I: Física, Astronomia, Química e Matemática

                                                       Vida e obra de personalidades

SILVA, Gonçalo Ferreira da, Galileu -Vida e Obra, 3a edição, ABLC, Rio de Janeiro, RJ, 2010, 8 p.: 32 estrofes: sextilhas
Ilustração: xilogravura de Lito da imagem de Galileu
Nota: Coleção Ciência em Cordel / O autor é Presidente e fundador da ABLC / biografia resumida do autor / propagando do folheto Vida e Obra de Arístocles Chamado Platão, do mesmo autor / 1a edição em 1988
Assunto: ciências, física, astronomia.
FAN e Cordelteca do NPEF

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                                                               Eventos marcantes

LACERDA, Geraldo Moreira de, O Cometa de Halley – O Sinal do Fim do Mundo, 13 p.: 49 estrofes: setilhas
Ilustração: xilogravura de Regídio Gonçalves de Lacerda
Nota : O autor se identifica como o “Poeta do Maranhão”, propaganda do próximo lançamento autor: O Brado do Sertão
Assunto: ciências, astronomia, cometa.
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                                                                            Física

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SOUSA, Jean Moisés de, LIMA, Josenildo Maria de, FEITOSA, Samuel dos Santos, A Física em Cordel - Sistema de Medidas, Campina Grande, PB, 2012, 8p.: 31 estrofes: sextilhas
Ilustração: gravuras sem autoria definida e origem
Nota : Popularizando a ciência, A Física através da Literatura de cordel. Divulgação de Blog e e-mail’s dos autores
Assunto: ciências, física, sistema de medidas
FAN e Cordelteca do NPEF

 

                                                                            Astronomia

SILVA, Gonçalo Ferreira da, Senhor dos Anéis, ABLC, Rio de Janeiro, RJ, 2004, 8p.: 31 estrofes: sextilhas
Ilustração: xilogravura de J. Victtor da imagem do planeta saturno.
Nota : Coleção Ciência em Cordel / O autor é Presidente e fundador da ABLC.
Assunto: ciências, astronomia.
FAN e Cordelteca do NPEF

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                                                                      Matemática

MIRANDA, Neuman, A Tabuada em Cordel, Editora Queima Bucha, Mossoró, RN, 12 p.: 42 estrofes: sextilhas
Ilustração: imagem sem informação de autoria e origem.
Nota: dedicatória da autora; pequena biografia da autora.
Assunto: ciências, matemática, tabuada, números.
AAA


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                                                                       Química

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RINARÉ, Rouxinol do e VIANA, Klévisson, Os Mistérios dos Perfumes, 1o Edição, Tupynanquim Editora, Fortaleza, CE, 2008, 8p.: 31 estrofes: 30 sextilhas e 1 setilha. Final?
Ilustração: Xilogravura de Klévisson Viana
Nota: dedicatória da autora; pequena biografia da autora.
Assunto: ciências, química, óleos essenciais, perfumes.
ARL

 

                                                                       "Ficcão"

FERNANDES, Olegário. Constelações – O Homem Que Foi à Lua, 4p.: 16 estrofes: sextilhas
Ilustração: xilogravura sem indicação de autoria.
Nota: sem nota.
Assunto: ciências, astronomia, lua
FRC

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                                                                    Outros suportes

SILVA, Gonçalo Ferreira da, Ciências em versos de Cordel - Mecânica, 1a Edição, Editora Rovelle, Gráfica Edelbra, Rio de Janeiro, RJ, 2012 , 32 páginas
Ilustração: J. Victtor
Nota: Contém os folhetos de cordéis: Arquimedes e Issac Newton / O autor é Presidente e fundador da ABLC / O livro traz uma pequena biografia do autor, como também do ilustrador / Apresentação da obra e de outros livros da coleção.
Assunto: ciências, física, mecânica.
ISBN: 978-85-61521-60-8.

Cordelteca do NPEF

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Agora, no sentido de construirmos uma sequencia de ensino para o uso dos folhetoscientíficos como ferramenta didática no processo ensino-aprendizagem, tomaremos como inspiração a Sequência FEDATHI, que foi desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Educação Matemática do Laboratório de Multimeios da Universidade Federal do Ceará, sob a coordenação do professor Hermínio Borges. O diferencial para o desenvolvimento do nosso trabalho, é que a sequência de ensino que iremos propor é também fortemente inspirada nos próprios folhetos. Constatamos que estes folhetos já nos direcionam para pensar que caminho, qual sequência de procedimentos devemos seguir para expor os conteúdos desejados.
Propomos a sequência de ensino a seguir:

1. Iniciamos a aula apresentando o folheto. Com ele em mãos, projetado na parede da sala e distribuído um para cada estudante ou grupo de estudantes, falaremos do poeta e do assunto abordado, além de aspectos gráficos.

2. Após, solicitamos um voluntário para declamar o folheto. E que o estudante tenha uma voz forte e altiva como a dos cantadores e poetas nordestinos. Esse momento tem por objetivo estabelecer uma visão geral do assunto abordado como também exercitar a interdisciplinaridade, como a leitura e a declamação. É o momento de tentar seduzir os estudantes com a linguagem e sonoridade dos folhetos.

É importante entendermos a necessidade da leitura declamada em voz alta, pois a rima e a declamação eram e ainda são táticas dos poetas cantadores e cordelistas para que suas histórias, suas notícias, seus romances, etc, sejam assimilados pelos ouvintes. O declamar em sala, como os poetas fazem, é essencial na utilização dos folhetos como ferramenta didática e é parte crucial da sequência de ensino proposta, pois a “alma” do folheto é a sua declamação (9) em voz alta.

3. A seguir, podemos dividir a turma em grupos de dois a quatro estudantes, para que cada grupo leia, discuta e faça a interpretação de texto do folheto, em especial sob o aspecto científico.

É a partir deste momento que se explora nos alunos os seus conhecimentos prévios (Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel), e como eles podem fazer a relação do conteúdo exposto no folheto com o seu cotidiano social, político e ambiental (Enfoque CTS). Aqui o professor deve deixar os alunos descobrirem por si só os ensinamentos postos no folheto, não interferir, mas ficar atento e disponível para qualquer solicitação de ajuda dos grupos, como também estimular as turmas que não estão conseguindo fazer um bom trabalho.

4. Como última etapa, a sala fará uma discussão sobre o conteúdo científico do folheto. Cada grupo dividido anteriormente poderá fazer uma exposição de todo ou de parte do folheto, podendo aí se estabelecer um debate entre todos.

Essa é a hora em que o professor deve se colocar no sentido de estimular os estudantes a falarem, e de forma natural aprofundar a teoria exposta no folheto. Esta etapa exige geralmente mais participação do professor, sendo importante trabalhar com os “erros e acertos” do que foi exposto pelos grupos. O diálogo no processo ensino-aprendizado tão defendido por Paulo Freire, deve permeiar toda a sequência de ensino apresentada acima.
A seguir vamos analisar sob o ponto de vista didático dois folhetos. As sugestões, análises e comentários que surgem ao longo do estudo de cada folheto, devem ser encaixados na Sequência de Ensino sugerida acima, e têm por objetivo ajudar o professor na condução da aula.

Analisando folhetos de cordéis para uso em sala de aula

Iniciaremos com o folheto de cordel ISAAC NEWTON, do poeta Gonçalo Ferreira da Silva. Esta análise será apenas feita sob o ponto de vista didático e servirá de apoio para o professor durante a aplicação da sequência de ensino descrita anteriormente.
De fato, o folheto ISAAC NEWTON do poeta Gonçalo Ferreira da Silva é excelente para a abertura de uma disciplina de Mecânica, por abordar tantos pontos dessa ciência, e abre a possibilidade de usar outros folhetos, mais específicos quanto ao conteúdo.

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Imagem III. Folheto de Cordel do Acervo Raymond Cantel (CRLA-Archivos, Universidade de Poitiers, França)

Vejamos os versos abaixo:

Autor inconteste do
cálculo infinitesimal
ao formular a lei de
atração universal…

Nas linhas acima, além de tocar na grande teoria da gravitação, o poeta comenta o importante cálculo infinitesimal (Diferencial e Integral), essencial para a construção da própria Teoria Newtoniana e para todo avanço das ciências exatas, sendo aí uma grande contribuição de Newton para a matemática e para as engenharias.

Newton contribuiu também para o estudo da natureza da luz, como aborda o belo verso a seguir: “os corpúsculos que lhe dão / luminosidade e vida.

A estrofe seguinte destaca o papel de Newton como catalisador dos trabalhos de outros, em especial Galileu e Kepler:

De Galileu, a mecânica,
de Kepler, a astronomia
o Newton pesquisador
fez a metodologia
da pesquisa científica
com luz e sabedoria.

Abaixo, uma série de magníficas pinceladas na física newtoniana, vejamos:

A força que deixa os corpos
Celestes subjugados
Mantendo assim os planetas
continuamente afastados…

A leis de Newton podem ser exploradas aí em toda sua profundidade. Neste ponto pode-se trabalhar com rotação e força centrípeta.

Discutindo a variação da força gravitacional:

Nos vales é bem mais forte
A força da gravidade
E no alto das montanhas
Tem mais fraca intensidade…

O professor deve destacar, caso os alunos não abordem este aspecto, que na verdade esta diferença de intensidade da gravidade é muito pequena entre vales e montanhas, apesar de ser importante, principalmente quando se diz que existe menos oxigênio para respirar quando se está a três mil metros de altura, por exemplo. Este é um momento em que fica mais evidente o resgate dos conhecimentos prévios dos estudantes. Hora também de evocar o enfoque da realidade dos alunos, pois, quem nunca assistiu pela televisão a uma partida de futebol na altitude da cidade de La Paz, quando sempre é destacada a dificuldade de respirar?

O folhetoa seguir do poeta Josenildo, é excelente para trabalhar com um conteúdo mais específico da mecânica, no caso, as leis de Newton, as bases na mecânica newtoniana.

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Imagem IV. Folheto de Cordel do Acervo Raymond Cantel (CRLA-Archivos, Universidade de Poitiers, França)


Vejamos em destaque algumas estrofes, começando pela estrofe que aborda a primeira lei de Newton:

Ciba muito empolgado
Um outro exemplo contou
Um cabra vinha de ônibus
E um cochilo ele tirou
Aí aconteceu uma freada
No chão o cabra acordou

Um ótimo exemplo para discutir a primeira lei. Podemos discutir outros exemplos simples utilizando objetos da própria sala de aula. Já na estrofe seguinte temos a definição da segunda lei de Newton:

A força que o cabra aplica
Newton explica muito bem
Ela depende da massa
Que em cima da bicha tem
O esforço não fica em vão
Uma aceleração ela obtem

Pode-se mais uma vez realizar exemplos em sala, e ir para o quadro desenvolver de forma lógica e “intuitiva” a expressão matemática dessa lei. Agora é a terceira lei:

Quando a gente vai andar
Nós empurra o chão pá trás
O chão nos afasta
E prá frente a gente vai
Esse é o par ação e reação
E acontece em nós meu pai

O professor também pode discutir com os alunos o que aconteceria caso não existisse o atrito, por exemplo.

Estes são somentes dois exemplos de folhetosque podem ser utilizados como ferramenta didática para o ensino de ciências, mostrando a enorme versatilidade dos folhetos de cordel.


Conclusões

O que escrevemos aqui não tem a intenção somente de expor as possiblidades do uso dos folhetos de cordéis como ferramenta didática e levantar questões que nos parecem essenciais para levar o professor e o estudante a se deslumbrarem com a ciência: esperamos evidenciar também mais esta faceta dos folhetos de cordel e sua versatilidade.

Algumas questões tornam-se importantes destacar aqui. A primeira é que, desde os cordéisna Europa até aos folhetos brasileiros, os poetas sempre produziram versos com a temática das ciências. Neste sentido, uma das nossas intenções com este trabalho é provocar uma maior produção dos chamados folhetoscientíficos, e que estes sejam ainda mais direcionados para conteúdos específicos das ciências, tornando-se ainda mais prático seu uso em sala de aula.

Uma segunda questão é que os folhetos já são utilizados em sala de aula como ferramenta didática, porém, princialmente nas áreas de letras, linguística e literatura. Na verdade, o uso do folhetocientífico como divulgador das ciências já chegou, mesmo que timidamente, aos colégios de nível fundamental e médio, mas acreditamos que seu uso pode ir além da divulgação ciêntífica, que os folhetos podem ser, sim, uma excelente ferramenta didática para ensinar os conteúdos de física, matemática, biologia e química, áreas que os estudantes consideram tão “difíceis”.

Pois é! São os folhetos de cordel como ferramenta didática para o ensino das ciências.


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Notas


(1) Utilizaremos ao longo do texto os termos cordéis, folhetos de cordéis ou simplesmente folheto.

(2) A Sequência FEDATHI foi desenvolvida nos primeiros anos na década passada no Laboratório de Multimeios da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, pela equipe coordenada pelo professor Hermínio Borges, inicialmente com o objetivo de trabalhar com Educação Matemática.

(3) Ria Lemaire, “Pensar o Suporte – Resgatar o Patrimônio” in Simone Mendes (org.), Cordel nas Gerais. Oralidade, mídia e produção de sentido, Fortaleza, Expressão Gráfica Editora, 2010, p. 67-93.

(4) Márcia Abreu, Histórias de cordéis e folhetos, Campinas, Mercado das Letras, 1999, p. 23.

(5) Sílvio Romero, Estudos Sobre a Poesia Popular no Brasil (1879-1880, Typ), Laemmert, Rio de Janeiro, 1888, p. 342-343.

(6) A Casa de Rui Barbosa é constituída por um Centro de Pesquisa, um Centro de Estudos Históricos, um Centro de Documentação e pelo Arquivo Museu de Literatura.

(7) PCN’s: Parâmetros Curriculares Nacionais.

(8) MEC: Ministério da Educação brasileiro.

(9) Ver Ria Lemaire, “Para o povo ver e ouvir / Pour que les gens voient et entendent : La présence de la voix dans les folhetos de la littérature de cordel brésilienne”, PRIS-MA, n°45-46, tome XXII, Poitiers, CESCM, 2007, p.123-174. Neste artigo podemos encontrar uma bela exposição que nos ajuda a entender o que é um folheto de cordel, qual a importância do ouvir, do declamar, do ver. Mostra que o folheto não pode ser entendido apenas como um conjunto de versos impressos num papel barato, pois ele tem que ser sentido também com o ouvido.